Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

terça-feira, 28 de junho de 2016

Análise intrínseca e análise relativa

Um dos livros que mais marcaram minha trajetória de estudos do mercado foi Valuation - Como avaliar empresas e escolher as melhores ações, de Aswath Damodaran. Neste livro o autor explora a abordagem de valor oferecendo ao leitor duas metodologias de análise de um ativo: a análise instrínseca e a análise relativa.

Recentemente publiquei uma entrevista concedida por ele ao Infomoney, o que me motivou revirar minhas anotações e resgatar seu livro para escrever este artigo, comentando brevemente seus métodos. Então, vamos lá.


Primeiramente, algumas explicações. A análise de valor aplica-se partindo do princípio de que o mercado é um mau precificador de ativos a curto prazo, por isto, sempre encontraremos discrepâncias entre valor e preço de uma ação, que podem permitir-nos comprar uma empresa por um preço inferior ao que ela realmente vale. Por esta abordagem, consideramos que os fatores que influenciam o preço de um ativo a curto prazo (bom-humor dos investidores, euforia do mercado, noticiário econômico...) pouco se relacionam com o verdadeiro valor de uma empresa, por isso, é natural que os preços apresentem disparidades, muitas vezes irracionais. Também, por este método admite-se que o mercado comete erros pontuais, porém acertam na média e com o tempo; sendo assim, uma empresa sub ou sobreavaliada tenderá a ter seu preço próximo ao seu valor no longo prazo. 


Outro ponto importante é: a análise de valor não é algo trivial, e para muitos investidores —seja por falta de tempo, inclinação ou interesse— ela simplesmente não é indicada, pois toma tempo e envolve bastantes variáveis. Portanto, o livro oferece ferramentas para aqueles que optam por se aventurar e avaliar empresas por conta própria.


Por último, gostaria de deixar bem claro que, obviamente, toda análise sempre será imperfeita. Qualquer método que venhamos a utilizar deverá ser usado apenas como uma ferramenta auxiliar à nossa análise, jamais devemos tomar decisões de compra ou venda baseando-se apenas em métodos de precificação, isto é uma estupidez. Porém, precificar ativos pode ser muito útil, pois apesar de não conseguirmos medir precisamente o valor de uma empresa, facilmente visualizamos os casos de empresas extremamente sobreavaliadas ou subavaliadas, e normalmente são nestas situações que poderemos encontrar grandes oportunidades de investimento.


Sendo assim, neste artigo pretendo apresentar brevemente ao leitor a análise intrínseca, e explorar um pouco mais a análise relativa.


Análise intrínseca

A análise intrínseca parte do princípio de que o valor de um ativo é determinado pelo fluxo de caixa que este ele será capaz de gerar no futuro e pela incerteza relacionada a esta previsão.

O método de Fluxo de Caixa Descontado (em inglês, Discounted Cash Flow, ou DCF), recomendado pelo autor para a análise intrínseca, relaciona o valor de uma empresa ao valor presente de seus fluxos de caixa futuros esperados, descontados a uma taxa que reflete o risco atrelado a estes fluxos. Por meio desta abordagem, o que se determina é a capacidade de geração de caixa proveniente das operações normais da empresa, ou seja, seu potencial de geração de lucro através de suas atividades operacionais.


Usando o DCF chegamos ao valor justo de uma empresa e, comparando com seu preço atual, deduzimos se ela está cara ou barata.


Esta metodologia aplica-se para uma grande gama de empresas, principalmente as de crescimento e crescimento moderado, onde se é possível fazer alguma estimativa razoável de sua geração de caixa futura. Porém, para algumas classes de empresas, como empresas de dividendos ou empresas cíclicas, este método é menos eficaz. 

A grande chave deste modelo é a determinação da taxa de crescimento futuro da empresa, e a aproximação desta estimativa ao valor real é algo que exige cautela e experiência. No livro, Damodaran aborda em detalhes o cálculo e nos passa vários artifícios que podemos usar para fazer uma análise mais precisa.


A título de curiosidade, existem diversos outros métodos de cálculo de análise intrínseca, como o dividend discount model (DDM), ou a famosa fórmula de Graham. Esta análise busca, basicamente, verificar a margem de segurança que o investidor possuirá investindo na empresa pelo preço atual. Esta margem é calculada dividindo o valor encontrado no método de precificação pelo preço atual do ativo. Cabe ao investidor escolher o modelo que mais lhe agrada. No meu caso, o modelo que mais gosto é de fato o DCF, que é abordado neste livro (lembrando que não é para todas empresas que ele se aplica).


Como disse, não irei me alongar nesta análise, pois a internet já possui diversos artigos explicando a utilização deste método. O foco aqui será a próxima análise, muito pouco utilizada, apesar de sua grande utilidade: a análise relativa.


Análise relativa

Enquanto a análise intrínseca estabelece um preço fixo para uma empresa, a análise relativa a avalia com base em como empresas semelhantes são precificadas no mercado. A análise relativa encontra empresas comparáveis, ajusta seus preços a uma variável comum e os compara, analisando o que justificará —ou não— a disparidade entre suas precificações.

A grande vantagem da análise relativa é a facilidade em obter-se os dados necessários e a simplicidade em manipular os múltiplos. Os indicadores que utilizamos deverão ser atrelados ao preço e baseiam-se em dados passados, como P/L (preço/lucro), P/VPa (preço/valor patrimonial), P/V (preço/vendas), P/EBITDA (preço/EBITDA) etc.; com destaque para o primeiro, em que sua companion variable é exatamente o crescimento esperado. Resumindo: há uma incompatibilidade quando encontramos empresas com P/L baixos e taxas de crescimento esperado altas, ou seja, provavelmente estamos diante de uma empresa subavaliada.


Vamos a um exemplo, aplicando-se a análise relativa no setor de madeira e papel. Abaixo estão os respectivos valores de P/L e LPA ajustados aos últimos 12 meses das empresas do setor que obtiveram algum lucro, além do preço das mesmas no momento em que escrevo. Os dados foram retirados do site do Bastter e do EXAME.



P/L LPA Preço
Eucatex 29,44 R$ 0,14  R$          4,08
Fibria 37,94 R$ 0,64  R$        24,47
Suzano 13,45 R$ 0,89  R$        11,90
Klabin 55,60 R$ 0,12  R$          6,68
Duratex 60,42 R$ 0,14  R$          8,43
Média 39,37

De cara, o que percebemos? A Suzano é uma empresa que está barata em relação ao setor. Aí vem a grande pergunta: por quê? Mas antes de mostrar-lhes as alternativas que temos, quero abordar outra questão.


Tive de analisar inúmeros setores da bolsa para buscar estes dados e não encontrei atualmente nenhum exemplo de empresa extremamente sobreavaliada. Alguns motivos justificam: estamos claramente em um mercado de baixa, onde praticamente tudo está barato; grande parte das empresas —triste dizer— apresentaram prejuízos nos últimos doze meses, o que faz com que seu P/L fique negativo e não nos sirva para a análise.


Sendo assim, quero simular uma situação: lembro-me de ver há pouco tempo atrás, em 2015, a Lojas Americanas com um absurdo P/L de 245. Quando isto acontece, e é muito comum em mercados de alta, nossos dados acabam completamente distorcidos. Uma observação: nada justifica um P/L desta natureza. Quando uma empresa é negociada por 245 vezes seus lucros significa que o investidor que comprá-la neste preço terá o retorno de seu investimento em 245 anos, caso a empresa mantenha sua lucratividade por este tempo. Obviamente, ninguém tem este tempo todo. Mas vamos ver o que aconteceria se a Lojas Americanas ainda estivesse com este P/L —ela apresentou prejuízos nos últimos 12 meses— e integrasse o setor de madeira e papel.



P/L LPA Preço
Eucatex 29,44 R$ 0,14  R$          4,08
Fibria 37,94 R$ 0,64  R$        24,47
Suzano 13,45 R$ 0,89  R$        11,90
Klabin 55,60 R$ 0,12  R$          6,68
Duratex 60,42 R$ 0,14  R$          8,43
Lojas Americanas 245,00 -  - 
Média 73,64

A média do setor, que era 39,37, passaria para 73,64, o que comprometeria nossa análise, pois todas as empresas do setor estariam abaixo da média, com exceção da Lojas Americanas. Por isto, nestas situações devemos utilizar a mediana, que nada mais é que a média descartando-se os extremos encontrados. Neste caso, eliminaríamos o 245,00 da conta e chegaríamos a uma média que faz muito mais sentido para o setor. Este ponto é muito importante.


Agora, vamos a outro exemplo: aplicaremos novamente a análise relativa, desta vez para o setor de varejo, setor, aliás, com ótimas empresas. Abaixo estão os respectivos valores de P/L e LPA ajustados aos últimos 12 meses das empresas do setor que obtiveram algum lucro, além do preço das mesmas no momento em que escrevo:



P/L  LPA   Preço 
Arezzo 20,27  R$      1,32  R$        26,75
Lojas Renner 25,58  R$     0,90  R$        22,97
Grazziotin 5,87  R$      2,15  R$        12,62
Guararapes 12,44  R$     4,42  R$       55,00
Média 16,04

Aqui, temos duas empresas acima da média e duas abaixo. Novamente, nos vem a pergunta: o que justifica tais discrepâncias? Damodaran nos oferece três possíveis justificativas: diferenças entre crescimento, risco e geração de caixa. 


Vejamos a Guararapes: esta empresa possui uma menor perspectiva de crescimento, um maior risco ou menor capacidade de geração de caixa em relação a média do setor que justifique seu menor P/L?


Caso o investidor não consiga responder a questão acima e prefira se embasar em números, a análise relativa é interessante por permitir, de maneira bem simples, que analisemos a projeção futura destes fatores. Mostro-lhes como.


Para verificar, por exemplo, se a perspectiva de crescimento justifica a sub ou sobreavaliação de uma empresa, podemos simplesmente dividir o P/L sobre a taxa de crescimento esperada, chegando ao P/L/C. A título de demonstração, colocarei taxas de crescimento esperadas aleatórias para todas as empresas, porque, afinal, estamos atravessando a maior crise de nossa história, ficando difícil desenhar um cenário de crescimento de lucratividade para qualquer setor. Nos últimos doze meses, apenas a Grazziotin das empresas listadas obteve crescimento nos lucros, e de míseros 2%. Mas voltando, neste cenário hipotético, ficaria assim:



P/L  LPA   Preço  Crescimento       esperado P/L/C
Arezzo 20,27  R$      1,32  R$        26,75       5,00% 4,05
Lojas Renner 25,58  R$     0,90  R$        22,97      10,00% 2,56
Grazziotin 5,87  R$      2,15  R$        12,62       5,00% 1,17
Guararapes 12,44  R$     4,42  R$       55,00       5,00% 2,49
Média 16,04 2,57


Vejam como a situação mudou. Neste cenário desenhado, a Renner, que era a empresa mais cara na primeira triagem, agora se apresenta próxima à média do setor. A Arezzo, que estava ligeiramente acima da média, agora é definitivamente a mais cara. A Grazziotin, neste cenário em que mantém seu crescimento em 5%, continuaria sendo a mais barata do setor. O que isso quer-nos dizer? Duas coisas:


1) Empresas que a princípio são tidas como caras podem compensar seu preço em resultados.


2) Empresas que a princípio estão com seu preço acompanhando a média do setor podem, na verdade, estar muito mais caras do que todas, a depender do que se espera de seus resultados.


Além disto, Damodaran ainda oferece uma abordagem estatística para aqueles que gostariam de relacionar mais de uma variável à sua análise. Para estes, ele mostra como fazer uma regressão múltipla em que associa uma variável dependente (o P/L, por exemplo) com duas ou mais variáveis independentes (como o crescimento ou risco). Aos interessados, vejam exemplos de dois estudos brasileiros feitos para em cima dos setores de energia elétrica e construção civil. Os links estão aqui e aqui. Não é algo simples, portanto não vou me alongar neste ponto.


A análise relativa, de fato, é uma ferramenta muito útil na análise de empresas. Podemos facilmente identificar aquelas ações que estão extremamente fora da média, e através dela temos uma visão bastante ampla do setor em que iremos nos inserir. Porém, como todo método, apresenta pontos fracos e, ao meu ver, o principal neste caso é o fato de toda a análise depender demasiadamente de dados fornecidos pelo mercado que, como já mencionei, considero um mau precificador.

Para finalizar, deixo as palavras do autor: "a atratividade dos indicadores é que são simples e é fácil de relacioná-los. Podem ser utilizados para obter estimativas de valor com rapidez, para empresas e ativos, e são especialmente úteis quando há um grande número de empresas comparáveis. Porém, podem ser facilmente manipulados e usados incorretamente, além de permitirem a inclusão de erros que o mercado pode estar cometendo na avaliação das empresas comparáveis."


Para o investidor cauteloso é uma ferramenta que, sem dúvida, pode agregar bastante.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Oi, uma empresa que abusou do direito de errar


A Oi entrou com pedido de recuperação judicial nesta segunda (20). A empresa está com graves dificuldades para honrar suas dívidas, que já chegam a mais de R$ 65 bilhões. Os problemas incluem o descumprimento de metas de qualidade, universalização e ampliação do acesso aos serviços de telecomunicação. A notícia completa está aqui.

"Considerando os desafios decorrentes da situação econômico-financeira das Empresas Oi à luz do cronograma de vencimento de suas dívidas financeiras, ameaças ao caixa das Empresas Oi representadas por iminentes penhoras ou bloqueios em processos judiciais, e tendo em vista a urgência na adoção de medidas de proteção das Empresas Oi, a Companhia julgou que a apresentação do pedido de recuperação judicial seria a medida mais adequada", diz o comunicado assinado por Flavio Nicolay Guimarães, diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Oi.

Segundo o comunicado, só assim a companhia conseguirá preservar a continuidade da oferta de serviços de qualidade a seus clientes dentro dos compromissos assumidos com a Anatel, preservar o valor da empresa, manter a continuidade de seu negócio e proteger o caixa do grupo.

A triste situação em que esta empresa se meteu, infelizmente, era facilmente previsível. Chega a ser difícil elencar a quantidade de besteiras que a administração da Oi cometeu, mas acho que o grande ponto de inflexão aconteceu quando Lula, então presidente,  alterou a Lei Geral de Telecomunicações para permitir que a Telemar comprasse a Brasil Telecom, com financiamento do BNDES. Segundo o ex-presidente, o país precisava de uma gigante na telefonia. E é óbvio que não precisava, isso não faz o menor sentido.

A partir daí, a Oi traçou uma estratégia com alto potencial explosivo: um aumento agressivo de seu capital somado de estratégias bastante exóticas no trato com seu negócio.

Vejamos um exemplo emblemático: no ano de 2012, a empresa se apresentava com um P/L de aproximadamente 9 e se gabava do posto de maior pagadora de dividendos do setor, chegando a pagar inclusive dividendos maiores que o lucro líquido atingido no final do exercício. Como assim?

No final deste ano, a Oi apresentou aos seus acionistas um aumento de aproximadamente quatro vezes seu endividamento total, para, dentre outras coisas, garantir o pagamento de altas taxas de dividendos. Pouco tempo depois, após anunciar um novo empréstimo, Alex Zornig, diretor financeiro da companhia, disse o seguinte: "A política de remuneração dos acionistas que foi anunciada depende das condições financeiras da companhia e é um pilar importante na governança corporativa, uma vez que proporciona previsibilidade ao mercado." Ou seja, a empresa continuaria pagando proventos aos seus acionistas, mesmo que para isto tivesse de pegar emprestado capital de terceiros. Faz algum sentido? É claro que não, e era fácil saber que uma política deste tipo resultaria em fracasso.

O que são dividendos? Dividendos são parte do lucro de uma empresa, que é destinada diretamente aos acionistas ao invés de ser reinvestida no negócio. Repetindo: dividendos são parte do lucro da empresa. Se a empresa não lucra, não faz o menor sentido distribuir dividendos. Mas para a Oi fazia, pois só assim poderia apresentar a seus acionistas a manutenção do posto de maior pagadora do setor. Mas não por muito tempo. Os resultados que se sucederam agravaram ainda mais sua situação: uma fusão asinina com a Portugal Telecom, um aumento vertiginoso de sua dívida, e claro, pois eles sempre chegam em péssimas gestões: os prejuízos.

E assim a Oi chegou a este triste fim. O juiz irá analisar o pedido da empresa e decidir se autoriza ou não a recuperação. Se não autorizar, ela terá de decretar falência. Caso autorize, há 60 dias para que a Oi apresente um plano de recuperação.

Lamentável, mas previsível.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Entrevista com Aswath Damodaran

Nesta segunda-feira, o Infomoney publicou uma entrevista concedida por Aswath Damodaran, professor da Stern School of Business e respeitadíssimo acadêmico (sim, o Infomoney de vez em quando dá uma bola dentro). Damodaran também é autor de uma penca de livros. Eu, particularmente, li Valuation - Como Avaliar Empresas e Escolher As Melhores Ações, e recomendo fortemente.

Primeiramente, uma nota rápida sobre o livro citado: é de nível intermediário/avançado e, por mais que tente adotar uma abordagem didática, é de difícil leitura para não acostumados com balanços e relatórios financeiros. Para os que já possuem alguma experiência, é um livro que pode agregar muito, pois o autor aborda de uma forma bem interessante diversos métodos de precificação para ações. Seu detalhamento das análises intrínseca e relativa certamente ilumina a difícil tarefa que é precificar um ativo.

Voltando, Damodaran mostrou um prognóstico otimista para aqueles que realizam investimentos no longo prazo, e tocou em alguns pontos interessantes sobre quais empresas poderão trazer bons retornos no futuro. 

Para os interessados, a entrevista completa pode ser lida aqui.

Abaixo, um conselho dado pelo professor para os investidores brasileiros:

"Se você for um investidor, o que você precisa ter, mais do que qualquer outra coisa, é paciência. É preciso disciplina, porque todo dia você abre o jornal e olha os preços das ações, ou outros ativos, e fica maluco. Se você achar uma boa companhia, com uma boa gestão, um bom modelo de negócios e bons produtos, meu conselho é: compre esta ação hoje, coloque em seu portfólio e pare de ler o jornal por uns dois anos. O que eu quero dizer é pra não ficar olhando os preços das ações e as notícias financeiras, porque isso te leva a fazer coisas estúpidas."

Sábias palavras.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Reflexões [1]

I) É impressionante a reação do indivíduo ao ter o seu primeiro contato com algo parecido à educação financeira. Tenho observado-a após sucessivas indicações do livro “Pai rico, pai pobre” a amigos e, assim como aconteceu comigo mesmo, o deslumbramento misturado ao desespero é total.

Minha mais nova experiência deu-se com um pequeno comerciante —sim, dono de seu próprio negócio— que herdou sua loja, já há algumas décadas em posse de sua família. Nem ele, nem seus familiares que já assumiram a administração do negócio,  possuiam a menor noção de contabilidade básica, e cometeram inúmeros erros triviais ao longo do tempo, segundo ele próprio me relatou. Não faziam um bom controle de estoque, não gerenciavam as retiradas com a devida diligência —imaginem, um negócio com mais de um dono sem controles rigorosos de retiradas—, deixaram a loja ficar com um aspecto visual horroroso, dentre outras coisas.

O fato é que, não bastassem os problemas de caráter gerencial, ainda erraram em um quesito essencial: nunca tiveram uma visão de longo prazo. Não construíram um colchão de segurança —nem sequer um caixa saudável—, não buscaram diversificar seus investimentos, nunca tiveram a disciplina de poupar uma porcentagem do lucro e viveram por longos anos gastando rigorosamente todo os rendimentos do comércio. E agora, após a indicação de apenas um livro, ouço os mais sinceros agradecimentos e sou tratado como um mestre dos investimentos por alguém que, por sua experiência e berço, deveria muito bem me ensinar sobre negócios.

Chega a ser engraçado, mas trata-se de um fato comum no Brasil, e que nos deixa duas reflexões: 1) Inúmeras lojas sobrevivem e dão lucros com péssimas administrações, por que ainda trabalhar para os outros?; 2) Eu, que tanto estudo e pesquiso sobre negócios, hesito em aplicar todo meu capital em um comércio; diversos brasileiros, sem a menor noção de administração e gestão de negócios, empreendem todo seu dinheiro em microempresas. Seria a ignorância uma aliada da coragem? Ou o conhecimento aliado da covardia?

II) Um amigo próximo, após um breve período de namoro, decide se casar. Tem lá seus vinte e poucos anos. A noiva, mãe de um filho, não trabalha. Nenhum dos dois possui situação financeira saudável. Longe de mim criticar a instituição do casamento, mas pergunto: qual a chance de um caso destes dar certo?

O casamento, além de todo o resto, implica em morar junto, construir uma família, e isso gera um custo considerável. Sem planejamento, o mais provável é que mais este casal fique, no mínimo, estagnado financeiramente por um longo tempo. Por que é tão difícil enxergar o óbvio?

III) O Brasil em crise, e continuo a ver um ou outro conhecido saindo do país através do programa “Ciência sem fronteiras”. O perfil é sempre o mesmo: jovens, que não trabalham, ou trabalham em cargos de pouca responsabilidade e mal remunerados, acreditam que a experiência externa agregará maravilhas aos seus currículos. Doce ilusão.

Falar uma segunda língua pode ajudar alguém a entrar em uma multinacional? É claro que sim. Mas desde quando para isto é necessário abdicar-se de trabalhar e viver fora por um ano?

“Mas além disso tem o lado da experiência de vida...” Ah, claro!, as festas e a vodka. Também gosto de comemorar, mas fazer disto uma rotina não é exatamente o que agregaria maravilhas a um currículo.

O que realmente agrega a um currículo é a qualificação técnica aliada da experiência prática. Um ano fora do mercado, por conseguinte, irá prejudicar o currículo atrasando o ganho de experiência.

Aliás: viver por um ano com pequenas (quase nulas) obrigações e custeado pelo dinheiro dos outros é uma realidade tão fantasiosa que, quando vivenciada, tem mais a causar marcas de desídia na personalidade do mal-acostumado.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Fechamento - Maio/16: R$ 44.558,01 (-2,40%)

Mais um mês que se passa, e mais um fechamento mensal para este blog. Uma boa notícia: decidi incluir alguns gráficos nos fechamentos a partir deste mês, para enriquecer o conteúdo do blog e fortalecer ainda mais meu acompanhamento e compromisso com o crescimento da carteira.

Basicamente, serão três gráficos mensais abordando: a evolução patrimonial da carteira, comparando-a com o patrimônio projetado mês após mês; a rentabilidade da carteira, comparando-a com a do Ibovespa e a do CDI; e os aportes mensais, comparando-o com a média mensal estipulada por mim mesmo como meta. Mais abaixo explicarei cada gráfico com maiores detalhes.

Este mês de maio foi um mês de baixa na bolsa, ou melhor dizendo, um mês de correção, já que nos meses de março e abril o Ibovespa apresentou uma alta beirando os absurdos 25%. Se trata de algo normal —tanto a alta, quanto a correção—, já que nestes meses cresceu-se a euforia quanto ao afastamento de Dilma Rousseff, que acabou sendo consumado em meados de maio. Como já sabemos, o índice acompanha apenas o otimismo ou pessimismo dos investidores para com o mercado brasileiro, portanto, não reflete a situação atual de nossas empresas.

Neste mês também foram divulgados os resultados relativos ao primeiro trimestre de 2016 de todas as empresas de minha carteira. Tive uma empresa com um resultado fraco, mas compreensível, e uma empresa com um resultado, novamente, decepcionante; as demais mantiveram ou ligeiramente melhoraram seus resultados, nada muito animador mas, tendo em vista a aguda crise que todas elas estão enfrentando, pode-se dizer que foram bons.

Antes que perguntem, ainda não acho que os dois resultados ruins consecutivos da empresa citada acima justificam um fechamento de minha posição. Penso que, como estamos enfrentando a maior crise de nossa história, é normal que empresas realmente sofram com isso, e sofrer no sentido empresarial implica quedas bruscas de margens e até prejuízos que, apesar de não serem nem um pouco agradáveis ou desejáveis, acontecem, e temos de saber lidar com eles. 

Vejo muitos investidores que abandonam boas empresas em situações parecidas convencidos de que, como os fundamentos pioraram, a saída é a opção mais sensata. Esta é uma situação bastante delicada e acredito que a análise, como sempre, deve ser focada no longo prazo. Os fundamentos pioraram, mas é algo momentâneo ou envolve a gestão e a administração do negócio? Por que os resultados pioraram? Houve alguma mudança estratégica da empresa na abordagem de seu mercado? Se sim, por quê?; se não, por que não? A empresa tem feito algo errado ou deixado de tomar medidas para melhorar os resultados? Estas são algumas das perguntas que procuro responder neste tipo de situação. No caso em questão, ainda acredito na empresa, e acredito que mais de meio século de resultados convincentes dizem mais do que dois trimestres ruins. Seguimos em frente.

Sem mais delongas, vamos aos resultados:

A rentabilidade mensal da carteira atingiu -3,05%. Como já disse anteriormente, esta queda não me incomoda, pois não há absolutamente nada que eu posso fazer para controlá-la. O foco é o longo prazo. Lembrando também de que esta rentabilidade não inclui a valorização de meu capital investido em empréstimos, que será incluído no fechamento do patrimônio. 

Abaixo, os números resumidos:

Rentabilidade mensal: -2,40%
Rentabilidade anual: 8,10%
Rentabilidade histórica: 1,04%

Agora, vamos às novidades do blog. De início, o gráfico de minha evolução patrimonial. Comento em seguida.

1- Evolução patrimonial


Como podem perceber, a série histórica iniciou-se em agosto de 2015, porém, a rentabilidade começou a ser medida pela metodologia da planilha do blog Além da Poupança apenas em outubro. Mesmo assim, deixarei os meses de agosto e setembro no gráfico. A carteira fechou o mês de maio com o valor de R$ 44.558,01.

O patrimônio projetado engloba a meta de aportes mensais, R$ 1700, e a meta de rentabilidade mensal, 1%. Desde que iniciei a medição ainda não obtive sucesso em ultrapassá-lo, mesmo com uma média de aportes acima de minha própria meta, como vocês verão mais abaixo. Tudo culpa da maldita rentabilidade. Me dê alguns anos que mudarei este cenário.

No mais, percebe-se que, mesmo que vagarosamente, meu patrimônio tem conseguido crescer, e isto é o mais importante. Adiante.

2-Comparativo de rentabilidades


Na rentabilidade, como não poderia ser diferente, venho caminhando abaixo dos dois índices de referência. Quanto a ela, não tenho muito o que dizer por enquanto. Ou melhor, tenho sim: foda-se.

E para fechar, a evolução de meus aportes mensais neste ano de 2016:

3- Aportes mensais



Não postarei os aportes passados em razão minha meta ser anual. Como podem perceber, estou um pouco acima da meta estipulada, porém, não muito. Um fato a ser mencionado é que normalmente faço os aportes na semana em que cai meu salário, no início do mês. Sendo assim, se no decorrer deste mesmo mês eu receber dividendos, estes são abatidos do valor do aporte mensal. Desta feita, acabei comprando um valor maior em ações do que o valor exposto no gráfico nos últimos dois meses, já que recebi expressivos dividendos em abril, e bons dividendos em maio. A tendência é que, no próximo mês, o aporte mensal venha acima dos últimos dois.

Para efeito de curiosidade: em janeiro aportei forte por ter tirado —e vendido parte de— minhas férias, e em março não aportei devido a gastos inesperados e inadiáveis. Até poderia ter feito um pequeno aporte, mas preferi postergá-lo e aportar mais forte em abril —o valor adicional não pode ser notado devido ao motivo já mencionado anteriormente.

Então, é isso aí! Mas antes de finalizar, gostaria de deixar meu abraço à presidente afastada Dilma Rousseff que, entediada com a monotonia e pacacidade de seu novo cotidiano, pode muito bem estar lendo este blog. Dona Dilma, seu lugar é aqui!