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terça-feira, 16 de agosto de 2016

A importância dos indicadores

Neste texto, volto ao tema da importância do preço na escolha de um ativo. Já havia abordado este assunto aqui, onde defendi a posição de que o preço de uma ação é importante. Novamente: quando digo que o preço é importante me refiro aos indicadores atrelados ao preço (P/L, P/VPa etc.), e não sobre acompanhar diariamente as cotações; aliás, mais uma vez reforçando: isto é uma total perda de tempo.

Os indicadores são excelentes ferramentas para auxiliar a análise de atratividade de um investimento. Quando analisamos os indicadores de uma empresa e os comparamos com similares do mesmo setor, obtemos importantes informações sobre como o mercado a avalia. Eles são muito úteis para identificar ações que claramente estão caras, e muitas vezes reforça nossa opinião de que estamos frente a uma pechincha. Basicamente, os usamos para detectar empresas extremamente sub ou sobreavaliadas.

Claro, da mesma maneira que um investidor deve usar um método de precificação apenas como uma ferramenta de auxílio, como uma base para um estudo mais profundo, a análise de indicadores deve ser utilizada com idêntica finalidade. É uma estupidez comprar uma empresa exclusivamente por seus indicadores, principalmente porque eles, por si só, não representam absolutamente nada em relação a perspectiva futura da empresa. E quando compramos uma ação, estamos apostando nosso dinheiro de que o negócio irá prosperar —ou, na pior das hipóteses, manter sua lucratividade constante. Sendo assim, se comprarmos empresas com base apenas em bons indicadores, certamente cairemos em furadas.

Para exemplificar: quando vemos um P/VPa abaixo de 1, temos em nossa frente uma empresa que está custando menos do que seu valor patrimonial. De forma crua, ao comprarmos esta empresa estaremos pagando menos do que ela possui em patrimônio. Porém, se não olharmos este mesmo VPa nos anos anteriores afim de captar sua evolução ou degradação, ignoraríamos, por exemplo, uma empresa que perdeu metade de seu valor em dois anos. Esta, ainda assim, seria atrativa aos nossos olhos, já que seu P/VPa naquele momento estaria baixo.

Outra: podemos encontrar uma empresa com o P/L baixíssimo, abaixo da média do setor, mas com quedas bruscas de lucratividade, aumento vertiginoso de sua dívida e uma péssima perspectiva de futuro.

Porém, por mais que indicadores não forneçam uma informação completa sobre a situação de uma empresa, eles podem ser-nos úteis, e sua utilização foi defendida por diversos investidores e acadêmicos. Abaixo, apresento brevemente —aos que já não conhecem— os mais conhecidos:

1) Eugene Fama e Kenneth French: um dos five-factors definidos por estes respeitadíssimos acadêmicos, através de seu Five-Factor Asset Pricing Model, que influenciam a expectativa de retornos de uma ação, é o P/VPa, sendo que este possui uma relação inversamente proporcional à expectativa de retorno de uma empresa. P/VPa baixo, expectativa de retornos alta.

2) Benjamim Graham: em O investidor inteligente, Graham recomenda que se dê a preferência à empresas com P/L abaixo de 15.

3) Peter Lynch: um verdadeiro caçador de pechinchas, Peter Lynch analisa os indicadores por diversos ângulos afim de encontrá-las. Para ele, alguns sinais que pode-se estar diante de uma empresa subavaliada são: P/L's abaixo de 5 para empresas com um histórico de lucros constante, P/L's abaixo da metade da taxa de crescimento dos lucros, dentre outros. O que de fato Peter Lynch não recomenda é que se ignore estes indicadores.

4) Jeremy Siegel: Siegel demonstra em seu Investindo em ações no longo prazo como nem sempre a melhor empresa apresentará os melhores retornos. Empresas de valor (com bons indicadores) podem superar fenômenos de crescimento, mesmo que não apresentem resultados tão expressivos. Também cito outro exemplo aqui.

5) Aswath Damodaran: sua análise relativa nada mais é que uma comparação entre indicadores. Para os interessados, explorei mais o assunto neste artigo.

Se fosse resumir, diria que os indicadores devem ser analisados sempre comparativamente, e basicamente por duas diferentes óticas: seu histórico, e frente às empresas do mesmo setor. No primeiro caso, estamos a observar quanto os investidores já pagaram por esta mesma empresa; no segundo, verificamos quanto o mercado paga por empresas concorrentes.

Mas antes de prosseguir, quero frisar novamente um ponto: analisar indicadores não é acompanhar oscilações de preço diárias. Entender esta diferença é fundamental, e creio carecer de um exemplo:

Vamos ver por que a variação de preços diária nada influi na análise dos indicadores. Imaginemos a Kroton, que fechou a última quinta-feira a R$ 15,28. Neste dia, seu P/L ajustado para o lucro dos últimos doze meses estava em 14,34. Um dia depois, no fechamento da sexta-feira, esta empresa obteve uma variação de -2,81% em sua cotação, baixando seu preço para R$ 14,85 no final do dia. O investidor que observasse seu gráfico veria o que se segue:




Esta variação, aparentemente significativa, alterou o P/L desta empresa de 14,24 para 13,94, o que é muito pouco. Vamos exagerar ainda mais. Suponhamos que a Kroton houvesse desvalorizado expressivos 15% neste dia, chegando aos R$ 13,11. Seu P/L, neste caso, cairia para 12,30, o que, para nossa análise, também continua não mudando muita coisa. Aliás, alguns investidores analisam o P/L por grupos (0 a 5; 6 a 10; 11 a 15...), portanto, para este caso, a empresa ainda se manteria no mesmo grupo. É por isto que digo que acompanhar oscilações diárias é uma perda de tempo.

Agora vamos ver o que esta análise nos informaria, pegando um gancho na análise relativa, de Aswath Damodaran. As empresas Ser, Estácio e Anima são as principais concorrentes da Kroton. Seus P/L's ajustados para a lucratividade dos últimos 12 meses são, respectivamente, 11,63, 16,91 e 16,02. Temos, portanto, uma média de 14,63. Comparando-a com o P/L da Kroton, percebemos que ela acompanha o que se paga pelas ações do setor. Portanto, aqui não encontramos nenhuma vantagem expressiva. Agora, novamente exagerando, suponhamos que o P/L da Kroton estivesse em 3,5 contra a mesma média de 14,63 do setor. Bom, aí sim poderíamos estar diante de uma pechincha, e é para casos gritantes como estes que analisamos os indicadores.

Um último exemplo que creio ser relevante. Vejamos a Estácio, empresa com o maior P/L do setor (16,91). Comparando-a com suas concorrentes, concluímos que ela está ligeiramente mais cara. Mas e se mudarmos a ótica de análise, desta vez para seu histórico? É o que teríamos a seguir:

              P/L
2012 30,33
2013 26,07
2014 27,38
2015 9,17
2016 16,91

Média 21,97

(Dados retirados do Bastter.com)

Nesta ótica, vemos que o que se paga hoje pelas ações da Estácio é cerca de 25% abaixo de sua média de preços retroativa. Isso poderia significar duas coisas: 1) a Estácio está barata e 2) seu setor, como um todo, sofreu desvalorização. Para este caso, de fato, o que ocorreu foi a segunda alternativa, e podemos observar esta mesma tendência de redução progressiva dos preços para as demais ações. Novamente, o que parece é que a empresa analisada não está descontada, porém, desta vez encontramos um indício de que talvez o setor esteja.

E é por isto que creio na utilidade dos indicadores. De forma simples, podemos obter tanto uma visão macro do setor, quanto uma visão específica da empresa analisada. Normalmente, como nos casos acima, os valores obtidos não serão suficientes para permitir-nos emitir um veredito sobre o status da empresa, porém não raro iremos nos deparar com diferenças de preço tão exorbitantes que não deixarão espaço para dúvida.

Um comentário:

  1. Parabens pelo post! Postei minha evolucao patrimonial entre janeiro de 2013 e julho de 2016. Tamo junto. Abraços

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